Lançada exatamente no dia 29 de abril de 2024 — quando Nana Caymmi completou 83 anos — a gravação de A lua e eu reuniu a cantora com Renato Braz e o pianista Cristovão Bastos naquele que viria a ser seu último registro fonográfico. Dois dias depois, no início da noite de 1º de maio, Nana faleceu, aos 84 anos, deixando para os admiradores um presente derradeiro: sua voz em uma interpretação serena e comovente.
A lua e eu é o primeiro single do ainda inédito álbum Canário do reino, projeto idealizado por Renato Braz em homenagem a Tim Maia (1942–1998). Nana, já aposentada dos palcos e estúdios desde 2020, foi convencida por Braz a participar do disco. Aceitou gravar de casa, com o acompanhamento do piano de Cristovão Bastos, parceiro musical de longa data.
A canção — uma balada soul composta por Cassiano (1943–2021) e Paulo Zdanowski (1954–2023), lançada em 1975 — foi escolhida pela própria Nana, que já a havia interpretado em seu álbum Nana, de 1988. Embora Tim Maia nunca tenha gravado essa música, seu vínculo com Cassiano, que assinou os arranjos de seu primeiro disco, justificou a inclusão no projeto.
Para contextualizar a faixa dentro do tributo, Renato Braz abre a gravação com 40 segundos da clássica Azul da cor do mar (1970), um dos primeiros sucessos de Tim. Em seguida, os dois minutos de A lua e eu são conduzidos quase inteiramente por Nana, com interpretação íntima e elegante. Braz só retorna nos instantes finais, encerrando a faixa com discrição.
Gravada com simplicidade, mas carregada de emoção, A lua e eu transformou-se no canto de cisne de Nana Caymmi — um adeus musical à altura de sua trajetória monumental.