Ana Castela se consolidou como um dos grandes nomes da nova geração do sertanejo ao misturar elementos tradicionais do gênero com pitadas de pop, funk e música eletrônica. Essa combinação, somada a um discurso que valoriza a cultura agro e o interior do Brasil, garantiu seu destaque no cenário nacional.
Agora, em seu primeiro álbum de estúdio — após dois registros ao vivo — a cantora sul-mato-grossense aposta alto em uma estética country americana. Mas a escolha, ao invés de expandir seu repertório, soa como um passo atrás. “Let’s Go Rodeo”, lançado nesta quinta-feira (29), traz nove faixas que muitas vezes lembram trilhas sonoras de comerciais genéricos do Texas, distantes da riqueza e identidade da música sertaneja brasileira.
O próprio título do álbum já antecipa o distanciamento da proposta que a consagrou. Em “Olha onde eu tô”, o primeiro single, Ana parece emular uma versão adolescente de Shania Twain nos anos 1990. Já “Se amando nas BR” flerta com o country pop à la Carrie Underwood, incluindo referências a “Nosso Quadro”, maior sucesso de sua carreira até aqui.
As faixas mais animadas ganham destaque, especialmente quando escapam do country tradicional. “As Cowgirl” aposta no funk mandelão de São Paulo, com um refrão que remete a “I Love It”, hit da banda Icona Pop com Charli XCX. Em “Tropa do Chapelão”, colaboração com o DJ Diplo, chama atenção o uso criativo do som do berrante — símbolo do sertanejo — como base da batida eletrônica.
Entre todas, “Pra quem você ligou” se destaca. É uma balada romântica com narrativa simples e eficaz sobre desilusão amorosa, no mesmo espírito de “Nosso Quadro”. Tem potencial para se tornar um novo hit.
O mérito de Ana Castela em “Let’s Go Rodeo” está na tentativa de se reinventar e escapar da fórmula que vem saturando o sertanejo nos últimos anos. O gênero tem dado sinais de esgotamento criativo — algo reconhecido por seus próprios artistas.
Ainda assim, é impossível ignorar que o sertanejo brasileiro carrega quase um século de evolução e pluralidade. Desde as modas de viola dos anos 1920, o estilo construiu uma identidade própria, com diferentes vertentes e narrativas. Ao mirar tanto no country americano, Ana corre o risco de se desconectar desse legado — e de uma audiência que espera mais do que uma cópia pasteurizada do que vem de fora.